quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Em branco

Abri a porta e me sentei na minha escrivaninha. Estava cheia de papéis, textos, canetas, embalagens vazias. Arredei tudo para os lados, peguei uma folha em branco e uma caneta preta, não por ter preferência pela cor, mas simplesmente porque foi a primeira caneta que correu para minha mão. Pensei em começar a escrever. Mas escrever o quê? Todos os dias nascem escritores, bons e ruins, e todos eles escrevem sobre qualquer tipo de assunto que alguém poderia imaginar. Sobre a vida, sobre a morte, sobre o dia, sobre a noite, a lua, o sol, as estrelas. Sobre política, história, ficção, ciência, literatura. Sobre astrologia, astronomia, comida, tecnologia...

O que eu poderia escrever? Dentre todas essas coisas, nenhuma parecia brilhar aos meus olhos. Nenhuma parecia gritar aos meus ouvidos, me seduzindo e induzindo. Eu tinha o controle. Tinha o papel (em branco) e a caneta (preta). Resolvi que não queria o papel, nem a caneta. Não queria escrever um texto, queria escrever um livro.

Trabalhei dias sem parar, fiquei semanas sem dormir direito, mas trabalhei duro para conseguir terminar o livro no prazo que eu mesma estipulei.


Terminei o livro, minhas mãos estavam suando, eu estava nervosa, meu coração acelerado. Quis criar algo diferente, mas comum. Algo que fosse apaixonar e se deixar apaixonar pelos leitores. Algo muito particular, muito próprio.

Meu livro foi publicado, estava em todas as livrarias do país, todos estavam comprando meus livros. Fizeram resenhas maravilhosas, críticas superinteressantes, todos os leitores ficaram fascinados.

Então, a primeira pessoa que comprou o primeiro livro, o abriu e se surpreendeu.

Ele estava em branco.

(...)

Foi um fiasco. As pessoas pegaram seus dinheiros de volta, me processaram.

Nenhuma delas entendeu o que aquilo significava. Nenhuma delas conseguiu ler a ausência de palavras e tudo que aquilo poderia vir a ser um dia. A própria história de cada um deles. Ou uma história sobre a lua, o mar, as estrelas, sobre ciência, tecnologia, ficção, astronomia.

Para isso, bastava uma caneta (preta).




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