quarta-feira, 2 de março de 2016

Meu irmão gêmeo do mal e o pior dia dos namorados do mundo

Meu nome é Fred, eu tenho uma irmã que se chama Lúcia e um irmão gêmeo que se chama Jorge. Meu pai se chama Leo e minha mãe - Lúcia, tira esse chulé de cima do meu Playstation! - enfim, essa é a minha família.

Ser filho não é fácil, ser irmão muito menos. Ainda mais quando se tem uma irmã mais velha e um irmão gêmeo irritantantemente lindo. Minha infância foi fácil como uma brisa de outono - essa parte poética eu puxei do meu pai - Minha mãe sempre me incitava a fazer novas descobertas e meu pai morria de medo que alguma coisa acontecesse comigo. Como as crianças tem uma espécie de sorte divina, nada de muito grave aconteceu comigo.

Como eu deixei implícito mais acima, ter uma irmã mais velha é muito chato às vezes. Ela se acha uma segunda mãe, acha que sabe de tudo, mexe em tudo e quer sempre se intrometer na minha vida. Sem falar que a partir de certa idade, ter uma irmã (independente se ela é mais velha ou não) fica bastante problemático. Porque hora ou outra, ela irá chamar atenção de certos caras. E ei, eu sou um cara! E pensar nesses problemas me deixa com dor de cabeça!

Jorge, meu irmão gêmeo do mal, não ganhou esse apelido à toa. Está certo que eu não sou lá aquelas coisas... mas um gêmeo tinha que ser o mal, certo? Sabe aquela desculpa clássica "Meu cachorro comeu meu dever de casa?" Pois é! Um dia eu disse para a professora que meu irmão comeu meu dever de casa e o resultado? Eu fiquei de castigo! Eu! E não ele! Dá para acreditar? E ei, realmente o Jorge havia comido o meu dever de casa. Coisa de gente louca. Minha mãe diz que é normal, que é coisa da idade, mas eu acho que essa loucura não passa nunca. Apenas espero que não seja genético.

Você deve estar se perguntando o porquê do "pior dia dos namorados do mundo" ali no título logo acima. Pois bem, não devia ter perguntado!

Tinha uma menina na minha turma e ela se chamava Fernanda. Lembre-se que eu falei mais cedo que puxei a parte poética do meu pai. Então... Fernanda era simples e sorridente, tinha cabelos de nuvem e hálito de chiclete de morango. Toda vez que eu a via, sentia uma dor de dente no estômago e ela achava que eu tinha sérios problemas intestinais.

Na hora do recreio eu sempre tentava uma forma de ficar sozinho com ela, mas as amigas dela não saiam de perto, nem na hora de ir ao banheiro! Por que é que as mulheres sempre vão ao banheiro em bando? A encanação vai dar em Nárnia ou algo do tipo? Vai saber!

Um dia perguntei ao meu pai por que os adultos são tão sérios e ele me disse que a névoa da juventude cobria os meus olhos e que quando o tempo fosse passando, as coisas de modo geral ficariam mais claras. E que nem todos gostavam do que passavam a ver. Fiquei meio confuso com essa explicação, mas achei melhor assim. Não precisamos entender tudo nessa vida.

Em um belo dia, resolvi ter outra conversa com meu pai.

- Pai, como você conheceu minha mãe?

- Em uma bela noite de terça-feira, em uma biblioteca empoeirada e sem boa iluminação.

- Pai, eu quero a história completa. Sem cortes. - nessa última parte meu pai me lançou um olhar de censura e me arrependi de ter dito isso. Ele me contou a história toda, pelo menos as partes essenciais.

- Poxa, pai, eu sabia que as mulheres eram complicadas, mas a mãe não facilitou nada pra você, hein!

- Pois é, filho. E eu também não era lá um Dom Juan. Até hoje fico surpreso pela minha ousadia de ter ido falar com a sua mãe naquele dia, na biblioteca.

- Ainda bem que você foi, né! Senão eu não estaria aqui!

- Pois é!

- Obrigado, pai, estou indo nessa!

- Até! Ei! Espera aí!

- Fica pra próxima!

Depois dessa conversa superprodutiva, fui conversar com minha mãe. Afinal de contas, ela é mulher.

- Mãe...

- Oi, Fred, suas roupas estão no armário, na parte superior esquerda. Sua tia Antônia ligou e queria saber o que você gostaria ganhar de aniversário e o Pedrinho vai vir às 15h para vocês jogarem aquele jogo nada educativo Gof of Ar. 

- Mãe, espera, eu preciso falar com você.

- Olha, se for para saber mais sobre o universo feminino, entenda de uma vez por todas que você não vai entender nada nunca.

- Mas mãe!

- E essa tal de Fernanda que você está interessado...

- Como você sabe disso? - eu estava perplexo e de repente senti que estava corando.

- Eu sou mãe e mulher! E entenda uma coisa: as mães sempre sabem das coisas e as mulheres sempre correm atrás das informações. E não me olhe com essa cara de censura.

Então ela pegou nas minhas mãos e nos sentamos. Ela olhou fundo nos meus olhos e disse:

- Fred, os meninos na sua idade se acham incríveis e as meninas na sua idade acham os meninos idiotas. Então, se ache menos e seja menos idiota, que aí sim, talvez, ela vai te dar uma chance. Mas nada de exageros e nem finja ser uma coisa que não é. Eles sempre fazem isso e isso sempre dá errado. Aja com naturalidade, mas nem tanto. Não vá sair tirando meleca perto dela, pelo amor de Deus. E mais uma coisa, você não é adulto, ainda. Então não finja ser um. Isso deixaria ela entediada, mesmo que ela não diga ou demonstre.

- Nossa, mãe, esse tanto de informação me deixou tonto!

- É claro, por isso que eu disse que você não devia nem tentar entender. E os homens não conseguem processar ou entender todo esse tipo de coisa. Assim como nós, mulheres, também nunca iremos entender certo tipo de coisa. LEO, TIRA ESSA MEIA SUJA DO SOFÁ!

Depois que meu pai chamou a atenção da minha mãe, sujando o sofá, fui refletir sobre tudo o que havia aprendido.

Meu aniversário foi em maio. Foi horrível. Mas como esse texto não é sobre o pior aniversário de todos os tempos, vou pular esse triste e lastimável momento da vida (com flashes, abraços apertados de tias solteironas, xixi de cachorro e meleca do Jorge) e vou pra parte que interessa: o mês seguinte, mês dos namorados.

Achei que não haveria data melhor para me declarar para a Fernanda. Eu estava seguindo as dicas dos meus pais e estava me dando muito bem, estava superconfiante.

A data tão esperada chegou. Pensei em um milhão de maneiras para me declarar, mas no final, foi tudo improviso. Na escola teve correio elegante, maçã do amor e muitas meninas recebendo flores e chocolates. Muitos casaizinhos tirando selfies, mas cá entre nós, eu prefiro as coisas do modo antigo.

Chamei Fernanda, a tirando do grupinho de amigas que liam cartões e davam risadinhas irritantes.

- Fernanda, eu não trouxe flores, nem chocolate, nem recadinhos do correio elegante. Porque o que eu tenho pra te dizer é simples como a tabuada de multiplicação (eu era ótimo em matemática). Eu gosto de você, assim do jeito que você é.

- Tá.

TÁ. TÁ? Acredita que foi isso o que ela disse???

- E?

- E o quê?

- E eu quero que você seja a minha namorada.

Nesse momento, Jorge chegou com um milhão de flores, doces e cartões vermelhos com mensagens de amor, e tudo isso para entregar para quem? Para a Fernanda!

O nosso olhar de ódio foi mútuo e nesse segundo eu tive a certeza de que iria quebrar o nariz do meu irmão.

O que se passou a seguir foi muito rápido e não consegui processar todas as informações. Jorge veio para cima de mim, dei um soco no nariz dele, ele deu um soco no meu olho. Caímos na briga. Me lembro de ter visto de relance a Fernanda comendo os chocolates que o Jorge levou e de suas amigas rindo dos bilhetinhos. Depois a diretora, que era super durona, separou a briga e nos levou para a detenção. Sinceramente, eu não estava com medo do castigo, estava com medo da reação da minha mãe e da decepção do meu pai.

Meus pais, sendo muito educados, não falaram nada até chegarmos em casa. Meu pai se descabelou, nos colocou em quinhentos castigos e nos obrigou a nos darmos um abraço (Jorge e eu), essa foi a pior parte. Já minha mãe me lançou um olhar gélido e disse:

- Qual a parte de tentar ser menos idiota você não entendeu? E Jorge, pare de comer meleca! Meu Deus! Acho que o maior castigo vocês já tiveram.

Escutar tudo isso doeu muito, muito mais que o soco no olho. Fiquei de atestado e mais um dia de suspensão.

Acho que esqueci de mencionar que a Fernanda começou a namorar o Jorge. E minha mãe se enganou quando disse que as meninas não gostavam de caras idiotas.

Taí uma coisa que nunca vou entender mesmo: o universo feminino.

P.S.: Semana que vem tenho um encontro marcado com a Paula, amiga da Fernanda, mas estou indo com calma. Estamos nos conhecendo melhor. E eu nem precisei comer meleca para ela aceitar sair comigo! Acho que finalmente estou pegando o jeito da coisa.


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